“História que se conta”. Essa é a tradução literal mais próxima do significado de mythos. Os gregos em especial contribuíram no ocidente com a amplitude e influência dentro de sua época. Muitos povos antigos se inspiravam na cultura ateniense, até seus vizinhos romanos se renderam aos deuses do Olympus, porém com uma roupagem cultural própria para seu povo.
Logicamente a mitologia grega não nasceu em um dia, como qualquer outra, foi forjada durante um longo período por povos diversos de forma oral. Invasores do norte trouxeram suas lendas, recebendo influência dos mercadores e viajantes que vinham da Ásia e África (com suas devidas culturas e Deuses) e de pouco a pouco, foram ocupando seus devidos lugares, tornando-se parte dos seus próprios Deuses muitas vezes nativos.
A gênese grega diz que no inicio existia o Caos, uma matéria composta de todos os elementos* e que através de suas acumulações foram manifestadas as formas físicas. Essas acumulações aos poucos foram obtendo controle sobre uma determinada área e assim nascerão os seus primeiros filhos Nix (Noite) e Érebo (Trevas) e de Nix nasceu os primeiros Deuses Urano (o Céu) e Gaia (a Terra).
* o hermetismo também aponta o mesmo princípio, mas através de conceitos alquímicos; Na ciência moderna da física quântica, essa matéria é referida como matéria negra;
Quando o Urano e Gaia se unirão, nascerão os Titãs, a própria manifestação da violenta força da natureza . O homem avançou em seu conhecimento e logo a natureza violenta primitiva foi evidenciada, quando o último e mais jovem dos Titãs, Cronos, com violência impar destronou seu pai e deu inicio a identidade cultural conhecida por ‘idade de ouro’. Crono tomou posse como nova divindade suprema a pedido de sua própria mãe, Gaia.
Cronos devorou seus próprios filhos (Héstia, Deméter e Hera, Hades e Poseidon), com medo que o destronassem como fizera com seu pai. O único a escapar foi Zeus, o mais jovem. Após adquirir conhecimento e poder Zeus, com ajuda de Métis, vingou-se de seu pai Cronos, fazendo com que ele cuspisse seus irmãos devorados. Assim Zeus destronou seu pai Cronos e fundou a dinastia dos Deuses do Olympus, tornando-se a maior divindade da terceira geração de deuses.
Os novos Deuses do Olympus eram muito “refinados” ao contrario de seus tios (Hades, Posêidon). Conta Homero que quando desafiado por seu Tio Posêidon, Apolo disse:
“Se eu aceitasse lutar com você pelos homens, por essa pobre raça que cresce e murcha como folhas das árvores, você teria todo o direito de me chamar de louco e de achar que perdi o senso de medida”.
Paralelamente a essa mitologia, a sociedade Grega desenvolvia-se de maneira muito similar. A fim de tentar fazer uma linha de raciocínio, mesclaremos a história da sociedade com a mitologia já citada.
Quando existia Caos e a matéria condensada, a sociedade estava na idade das cavernas, onde o homem primitivo era o que existia. Ele não tinha a consciência de uma divindade superior.
Quando o homem primitivo começou a evoluir e viver também a base de agricultura, notaram que as maiores forças por eles conhecidas é que na verdade regiam suas vidas. Passaram a acreditar então que cultuando essa força superior, uma força benevolente cairia sobre eles. Denominaram então que o ‘deus vulcão’, o ‘deus vento’, o ‘deus mar’ e as outras forças conhecidas teriam suas próprias personificações. Essa foi a era em que a sociedade reconhecia a primeira geração dos deuses (Gaia, Nix, Urano...).
Posteriormente a sociedade evolui e vive sobre determinadas regras, tornando cada região um povoado com cultura independente. Foi o período que as culturas começaram a misturar-se devido às pequenas imigrações, período esse que foi concomitante com o período da idade de ouro de Cronos, reflexo da sociedade violenta e bruta da época, repleta de invasões e tomadas de cidades.
Conforme as sociedades se expandiam, suas culturas também iam se mesclando. Essa mistura de sociedades traziam um avanço tecnológico e “divino” as sociedades das mais diversas partes do mundo, constituindo as culturas de cidades-estados da época. A barbárie já não era mais empregada como antes, era uma época mais ‘cordial’ até mesmo entre os povos invasores e os que eram invadidos. Foi a época em que na mitologia Zeus destronou Cronos através do que se pode chamar de política (já que ele associou-se com Métis em busca de um bem comum).
Podemos então chegar a uma conclusão que tanto a história da sociedade quanto a história mitológica andaram por caminhos paralelos, tendo seus pontos em comum. E vemos que logicamente uma história influenciou a outra: tanto os acontecimentos da sociedade influenciaram a história mitológica quanto a mitologia influenciou os fatos históricos. Afinal, apesar de os deuses nem sempre serem os personagens principais, é muito raro não serem mencionados dentro de uma narrativa histórica.
Curiosamente, alguns deuses, semi-deuses, heróis e mesmo os homens dessas histórias e mitologias, localizavam-se dentro do mapa do mundo conhecido. Assim vemos locais reais e de possível visitação dentro destes mitos como, o estreito de Gibraltar (antiga colunas de Hercules), Monte Olympus, Monte Parnaso (onde Apolo matou o Titã Píton)...
Na maioria das vezes não é a palavra dos Deuses que é transmitida, mais sim a história de um mundo em que Deuses e homens viviam.
MP Nuno MNH