A antiga cultura egípcia remete-nos a certas perguntas muito bem colocadas por Lucien Lamy, ao falar dos mistérios egípcios:
· Como descrever o indescritível?
· Como demonstrar o indemonstrável?
· Como exprimir o inexpressável?
· Como fixar o instante fugidio?
Quando o dualismo não se manifestava no tempo e espaço havia apenas uma unidade: dia e noite, sim e não, vida e morte, alto e baixo, luz e sombra coexistiam em uma só presença no mar cósmico, chamado pelos antigos egípcios por Nun. Nun era incompreensível, único e inerente ao Todo. Esta era a introdução ministrada ao neófito nos centros iniciáticos de Heliópolis, Mênfis, Hermópolis e Tebas, acerca da criação.
Os grandes mistérios transitavam entre o invisível e o visível, a partir do Nun incompreensível. A multiplicidade que conhecemos neste mundo material originava-se no Nun.
O criador possuía o impulso natural de conhecer a si mesmo. Com a realização de sua própria consciência houve a manifestação do poder original do coração: o khepri (escaravelho), que se transforma triplamente enquanto ovo, larva e ninfa, antes de alcançar sua maturidade e tornar-se no ser alado que é.
Os hieróglifos utilizados para relatar a história mítica dos centros iniciáticos do antigo Egito abrem a possibilidade de diversas interpretações. Revelam facetas diferentes do ciclo cósmico. O mais antigo texto religioso conhecido são os chamados “Textos das Piramides”, que foram encontrados nas câmaras mortuárias do sec. V e VI a.C. Os Textos das Pirâmides foram gravados em pedras com o objetivo de facilitar a passagem do Rei após sua morte, em busca de se tornar uma alma pura e luminosa: “Akh” .
Através de fórmulas mágicas é possível atrair os princípios funcionais ativos, chamados neterw, que são os poderes cósmicos básicos e vitais dentro do universo. Estes poderes cósmicos são entidades divinas, porém deve ser ressaltado que não são deuses. Esta cosmologia apresentada nos textos das pirâmides é certamente anterior à formação cosmológica conhecida dos Deuses do Antigo Egito.
Continua amanhã com Heliópolis.
Por. MP Nuno Maha.